A rainha idólatra e sua influência destrutiva em Israel
A história de Jezabel é uma das mais polêmicas e marcantes do Antigo Testamento. Seu nome se tornou sinônimo de idolatria, manipulação e corrupção espiritual, sendo usado até hoje para descrever comportamentos de influência negativa dentro da fé cristã. Mais do que apenas uma rainha estrangeira casada com um rei israelita, Jezabel mudou os rumos espirituais da nação, trazendo consigo a adoração a Baal e promovendo perseguições contra os profetas do Senhor.
Sua presença na Bíblia não é apenas um relato histórico, mas também um alerta sobre o perigo de líderes que desviam o povo de Deus. Seu governo ao lado de Acabe, rei de Israel, ficou marcado por abusos de poder, alianças impuras e ataques diretos à fé monoteísta estabelecida pelos mandamentos de Deus. O impacto de suas ações foi tão profundo que seu nome aparece até no Novo Testamento, no livro do Apocalipse, como um símbolo de corrupção espiritual.
Neste artigo, vamos explorar quem foi Jezabel, sua origem, sua influência sobre o rei Acabe, seu confronto com o profeta Elias e seu trágico fim, além de compreender como sua história continua relevante até hoje.
Quem foi Jezabel na Bíblia?

Jezabel era filha do rei Etbaal de Sidon, um governante fenício que não apenas liderava seu povo politicamente, mas também exercia forte influência religiosa, sendo um fervoroso adorador de Baal. Como era comum na antiguidade, casamentos entre reinos vizinhos eram utilizados para selar alianças políticas e fortalecer relações entre nações. Foi nesse contexto que Jezabel se casou com Acabe, rei de Israel, tornando-se rainha e introduzindo consigo uma cultura religiosa totalmente contrária ao monoteísmo do povo hebreu.
Diferente de outras rainhas estrangeiras que simplesmente conviviam com a fé israelita sem maiores conflitos, Jezabel não aceitou o Deus de Israel e fez questão de impor sua própria crença sobre a nação. Ela trouxe consigo a adoração a Baal e Aserá, dois dos principais deuses cananeus, associados à fertilidade, colheitas e tempestades. Sob sua influência, Acabe construiu templos e altares para Baal, oficializando o culto pagão no reino e afastando ainda mais o povo dos caminhos do Senhor.
Além de influenciar a idolatria em Israel, Jezabel se tornou uma perseguidora dos profetas de Deus. Seu poder e influência foram usados para erradicar aqueles que se opunham à adoração a Baal, mandando matar os profetas do Senhor e substituindo-os por sacerdotes pagãos. Essa atitude não apenas corrompeu a espiritualidade da nação, mas também resultou em conflitos diretos com Elias, um dos maiores profetas do Antigo Testamento.
O impacto de Jezabel foi profundo, pois ela não apenas incentivou a idolatria, mas modificou a estrutura religiosa e política de Israel, colocando o reino sob uma influência estrangeira que desafiava diretamente a aliança de Deus com Seu povo. Seu nome passou a ser associado à corrupção espiritual e ao uso manipulador do poder, uma marca que atravessa os séculos e permanece viva na tradição bíblica.
Jezabel e a idolatria: A rainha que afastou Israel de Deus
Desde sua chegada a Israel, Jezabel não apenas introduziu a adoração a Baal e Aserá, mas também fez da idolatria uma política oficial do reino. Com o apoio do rei Acabe, foram erguidos templos e altares para esses deuses, e a nação começou a seguir rituais pagãos que iam contra a lei de Moisés. A influência de Jezabel foi tão intensa que muitos israelitas abandonaram o culto ao Deus verdadeiro para seguir as práticas fenícias, afastando-se completamente da aliança estabelecida por Deus com seu povo.
O culto a Baal e Aserá envolvia rituais de fertilidade, sacrifícios e práticas imorais, que contrastavam diretamente com os princípios de santidade exigidos pelo Senhor. Jezabel não se limitou a promover a idolatria, mas também perseguiu ativamente aqueles que ainda permaneciam fiéis a Deus. Ela ordenou a matança dos profetas do Senhor, forçando muitos a se esconderem em cavernas ou fugirem para não serem mortos.
Seu objetivo era claro: erradicar completamente o culto a Javé e substituí-lo pela adoração a Baal. Para isso, Jezabel financiou cerca de 450 profetas de Baal e 400 profetas de Aserá, garantindo que os ritos pagãos fossem disseminados e aceitos pelo povo. Esse patrocínio sistemático da idolatria não apenas corrompeu a identidade espiritual de Israel, mas também desencadeou uma resposta direta de Deus, que não permitiria que Seu nome fosse esquecido na terra que havia prometido a Abraão.
O impacto dessa apostasia foi devastador. Israel enfrentou períodos de fome e seca, sinais claros de que Deus estava retirando Suas bênçãos da nação devido ao pecado e à rebeldia. Foi nesse contexto que o profeta Elias se levantou para confrontar a influência de Jezabel, culminando no grande embate no Monte Carmelo, onde Deus provaria, de maneira incontestável, que Ele era o único Deus verdadeiro.
o poder de Deus contra a idolatria
O reinado de Acabe e Jezabel marcou um dos períodos mais espiritualmente decadentes da história de Israel. Com a idolatria de Baal instalada como culto oficial e os profetas do Senhor sendo perseguidos, Deus enviou uma seca severa sobre a terra como um sinal de julgamento. Durante três anos e meio, não caiu uma gota de chuva sobre Israel, causando fome e sofrimento. Esse cenário de crise preparou o caminho para um dos confrontos mais dramáticos da Bíblia: o embate entre Elias, o profeta do Senhor, e os profetas de Baal, sustentados por Jezabel.
O desafio foi lançado no Monte Carmelo, onde Elias convocou o povo e desafiou os 450 profetas de Baal para um teste definitivo. A proposta era clara: cada lado prepararia um altar e colocaria um sacrifício sobre ele, mas sem acender fogo. Aquele cujo Deus respondesse com fogo do céu seria reconhecido como o verdadeiro Deus de Israel. O povo, dividido entre o culto a Javé e a influência de Baal, aceitou a proposta, e o confronto começou.
Os profetas de Baal passaram o dia inteiro clamando ao seu deus, dançando, gritando e até se cortando em rituais de desespero, mas não receberam nenhuma resposta. Enquanto isso, Elias os ridicularizava, sugerindo que talvez Baal estivesse dormindo ou viajando. Quando chegou a vez de Elias, ele fez algo inesperado: mandou encharcar completamente o altar com água, tornando impossível que qualquer fogo natural o consumisse. Em seguida, ele orou ao Senhor, e imediatamente um fogo divino caiu do céu, consumindo completamente o sacrifício, a lenha, as pedras do altar e até a água que estava ao redor.
Esse milagre foi um golpe fatal contra a idolatria promovida por Jezabel. O povo, testemunhando o poder do Deus de Israel, caiu com o rosto em terra e declarou: “O Senhor é Deus! O Senhor é Deus!” (1 Reis 18:39). Após essa vitória espiritual, os falsos profetas de Baal foram executados, marcando o início da ruína da influência de Jezabel sobre Israel.
Entretanto, Jezabel não se arrependeu. Ao saber da morte dos profetas de Baal, ela jurou vingança contra Elias, enviando-lhe uma ameaça de morte. Isso forçou o profeta a fugir para o deserto, onde teve um encontro profundo com Deus e recebeu novas direções para seu ministério.
Esse confronto não foi apenas um episódio histórico, mas uma lição espiritual sobre a fidelidade de Deus, a futilidade da idolatria e a necessidade de permanecer firme mesmo em meio à oposição. Jezabel perdeu a batalha no Monte Carmelo, mas sua história ainda não havia chegado ao fim. Nos próximos tópicos, veremos como sua ambição e seu abuso de poder continuaram a marcar sua trajetória, levando-a a um destino trágico.
O caso da vinha de Nabote: o abuso de poder de Jezabel

Mesmo após a humilhação no Monte Carmelo e a execução dos profetas de Baal, Jezabel não perdeu sua influência política nem seu desejo de manipular as estruturas de poder. Um dos episódios mais marcantes de sua trajetória foi o caso da vinha de Nabote, um relato que ilustra sua disposição para desrespeitar as leis e recorrer à injustiça para alcançar seus objetivos.
Nabote era um homem simples, dono de uma vinha que fazia parte da herança de sua família. O rei Acabe, desejando aquela propriedade para si, tentou comprá-la, mas Nabote recusou a oferta. Para os israelitas, a terra era um bem sagrado, pois fazia parte da herança dada por Deus às tribos de Israel. Vender sua herança era algo impensável para um israelita fiel, pois significaria desrespeitar a ordem divina sobre a posse das terras.
Acabe, frustrado com a negativa de Nabote, voltou para seu palácio abatido. Foi então que Jezabel entrou em cena. Com sua frieza e ambição, ela tomou a situação para si, garantindo que resolveria o problema da forma que lhe convinha. Usando seu poder e influência, ela forjou falsas acusações contra Nabote, organizando um julgamento fraudulento onde ele foi injustamente condenado à morte sob a acusação de blasfêmia contra Deus e contra o rei.
Com Nabote morto, Jezabel simplesmente tomou posse da vinha e a entregou a Acabe. Esse ato brutal e inescrupuloso foi uma afronta direta à justiça e à aliança de Israel com Deus. No entanto, o Senhor não permaneceu indiferente. Elias, mais uma vez, foi enviado por Deus para confrontar Acabe e Jezabel, proferindo uma sentença profética contra eles.
Essa profecia não foi apenas uma condenação pessoal, mas um lembrete de que ninguém, por mais poderoso que seja, está acima da justiça de Deus. O caso da vinha de Nabote reforça a crueldade de Jezabel e a forma como ela usava sua posição para oprimir e silenciar qualquer um que se opusesse a seus desejos.
O destino de Jezabel e o cumprimento da profecia
A trajetória de Jezabel foi marcada por idolatria, perseguição e abuso de poder, mas Deus não ignorou suas transgressões. Após a injustiça cometida contra Nabote, o profeta Elias voltou a confrontar Acabe e Jezabel, anunciando um destino trágico para ambos. A profecia de Elias foi direta:
“Os cães devorarão Jezabel junto ao muro de Jezreel.” (1 Reis 21:23).(NIV)
Essa sentença deixava claro que Jezabel não apenas perderia sua posição de influência, mas também morreria de maneira humilhante e indignificante, sem direito a um sepultamento digno, algo terrível para os padrões da época.
Após a profecia, Acabe morreu em batalha, exatamente como Elias havia predito. Com isso, Jezabel perdeu sua maior proteção política. Porém, mesmo sem Acabe, ela continuou governando por meio de seus filhos, mantendo sua posição e influência no reino. No entanto, seu fim já estava selado.
O cumprimento da profecia aconteceu durante o reinado de Jeú, um comandante militar que foi ungido por Deus para acabar com a linhagem de Acabe e eliminar a idolatria em Israel. Quando Jeú marchou contra Jezreel, onde Jezabel vivia, ela tentou usar seu poder uma última vez. Sabendo que ele vinha para tomar o trono, ela se arrumou, pintou os olhos e tentou seduzi-lo e manipulá-lo, possivelmente tentando repetir os jogos políticos que havia feito no passado.
No entanto, Jeú não se deixou enganar. Ao invés de ceder, ele ordenou que os servos do palácio a jogassem da janela. Jezabel caiu e morreu na queda, e seu corpo foi devorado pelos cães, exatamente como Elias havia profetizado. Quando foram procurá-la para enterrá-la, apenas o crânio, os pés e as mãos restavam, cumprindo cada detalhe da sentença divina.
Esse desfecho trágico mostrou que ninguém está acima da justiça de Deus. Jezabel, que tantas vezes usou seu poder para eliminar aqueles que a desafiavam, terminou sem aliados, sem dignidade e sem descendência para continuar seu legado. Sua história se tornou um símbolo do que acontece com aqueles que usam sua posição para desafiar Deus e corromper uma nação.
Jezabel no Novo Testamento: significado espiritual
Embora Jezabel tenha vivido séculos antes do período do Novo Testamento, seu nome não foi esquecido. Sua história se tornou um símbolo tão forte de corrupção e desvio espiritual que é mencionada novamente no livro de Apocalipse, onde representa um tipo de influência destrutiva dentro da igreja.
Em Apocalipse 2:20, Jesus, ao falar à igreja de Tiatira, diz:
“Tenho contra ti o tolerares que Jezabel, mulher que se diz profetisa, ensine e engane os meus servos a se prostituírem e a comerem dos sacrifícios da idolatria.” (BibleGateway)
Aqui, Jezabel não é citada como uma pessoa real, mas como um espírito ou influência que atua dentro da igreja, desviando os fiéis da verdade. Assim como a Jezabel do Antigo Testamento levou Israel à idolatria e perseguiu os profetas de Deus, essa “Jezabel” mencionada em Apocalipse representa líderes e influências que corrompem a fé, promovendo imoralidade, manipulação e distorção da Palavra de Deus.
Esse conceito deu origem à ideia do chamado “espírito de Jezabel”, frequentemente mencionado em círculos cristãos. Embora haja diferentes interpretações, muitas tradições cristãs entendem esse espírito como qualquer influência que promove engano, desvio espiritual, manipulação e a substituição da adoração verdadeira por práticas corrompidas.
A citação de Jezabel no Novo Testamento reforça o impacto duradouro de sua figura na história bíblica. Ela não é apenas lembrada como uma personagem do passado, mas como um alerta contra qualquer sistema religioso ou liderança que tenta manipular, seduzir e afastar as pessoas da verdade de Deus.
O que podemos aprender com a história de Jezabel?

A história de Jezabel é mais do que um relato de corrupção e idolatria no Antigo Testamento. Ela serve como um alerta sobre o perigo das más influências, do abuso de poder e da substituição da verdade de Deus por interesses próprios. Jezabel não foi apenas uma rainha estrangeira que trouxe práticas pagãs para Israel; ela foi um símbolo de como escolhas erradas podem afetar uma nação inteira e ter consequências eternas.
Uma das primeiras lições que podemos extrair de sua história é a importância de escolher líderes e influências que estejam alinhados com os princípios divinos. Acabe, ao casar-se com Jezabel, abriu espaço para que a idolatria se tornasse dominante em Israel, afastando o povo da aliança com Deus. Isso nos ensina que as companhias que escolhemos e as vozes que ouvimos podem nos aproximar ou nos afastar do propósito de Deus.
Outro ponto crucial é o perigo da manipulação e do desejo desenfreado pelo poder. Jezabel não apenas queria governar Israel ao lado de Acabe, mas também quis controlar o povo e eliminar qualquer resistência à sua vontade, chegando ao ponto de perseguir os profetas de Deus e assassinar Nabote para satisfazer seus desejos. Isso nos mostra que líderes que não têm compromisso com Deus e buscam apenas seus próprios interesses podem causar grande destruição.
Além disso, a história de Jezabel nos ensina que nenhuma injustiça passa despercebida aos olhos de Deus. Ela conspirou, enganou e usou sua influência para impor sua vontade, mas, no final, a justiça divina prevaleceu. Sua morte foi um testemunho de que o mal pode prosperar por um tempo, mas sempre será julgado no tempo certo.
Por fim, a citação de Jezabel no Novo Testamento nos alerta sobre o perigo da corrupção espiritual dentro da própria igreja. O “espírito de Jezabel” continua sendo um símbolo de falsos ensinos, imoralidade e distorção da Palavra de Deus, algo contra o qual os cristãos devem estar sempre atentos.
Portanto, a história de Jezabel não deve ser apenas lembrada como um conto do passado, mas como um aviso atual sobre o que acontece quando deixamos que o engano, o orgulho e a idolatria dominem nossas vidas. O caminho da fé exige discernimento, compromisso com a verdade e uma busca contínua pela vontade de Deus acima de qualquer influência externa.
Conclusão: o legado de Jezabel
A história de Jezabel permanece como um dos maiores exemplos de como a idolatria, a manipulação e o desvio da verdade podem corromper indivíduos e nações inteiras. Seu nome se tornou sinônimo de influência destrutiva, não apenas no Antigo Testamento, mas também no Novo, onde aparece em Apocalipse como um alerta contra falsos ensinamentos e líderes que afastam o povo de Deus.
Jezabel demonstrou que o poder sem limites e sem temor a Deus leva à ruína. Sua perseguição aos profetas, sua imposição da idolatria e seu uso de estratégias desonestas para satisfazer seus interesses pessoais resultaram em um fim trágico, cumprindo exatamente a profecia anunciada contra ela. Isso nos lembra que nenhuma injustiça passa despercebida aos olhos do Senhor e que a justiça de Deus sempre se cumpre no tempo certo.
No entanto, sua história também serve como um convite à reflexão. Em um mundo onde influências negativas podem surgir de diferentes formas, é essencial manter-se firme na fé, ter discernimento e escolher seguir a Deus acima de qualquer pressão externa. Jezabel representa tudo o que pode desviar um cristão do caminho, mas sua queda nos mostra que Deus é soberano e que o bem prevalece sobre o mal.
Observação final:
- Jezabel não apenas trouxe idolatria para Israel, mas transformou a religião pagã em um sistema oficial, mostrando o perigo de líderes espiritualmente corrompidos.
- Seu embate com Elias no Monte Carmelo foi um dos maiores confrontos espirituais da Bíblia, reforçando que Deus é o único e verdadeiro Senhor.
- A injustiça contra Nabote revela os perigos do abuso de poder, algo que pode ser visto até hoje em diferentes esferas da sociedade.
- Seu nome continua sendo usado como um alerta contra a corrupção espiritual dentro da própria igreja, como mencionado em Apocalipse.
- Seu fim trágico mostra que ninguém está acima da justiça divina e que o mal sempre encontra seu julgamento no tempo certo.
O exemplo de Jezabel nos desafia a rejeitar qualquer influência que tente substituir a verdade de Deus por falsidades, manipulação ou idolatria. Sua história não é apenas um relato do passado, mas um alerta vivo para todo aquele que deseja permanecer fiel ao senhor.

João Paulo Andrade é o autor do blog ”O Pregador de Cristo”, dedicado a explicar de forma clara e acessível os significados de termos bíblicos e personagens pouco conhecidos da Bíblia.